A Sacerdotisa

“É de conhecimento popular que quando a lua aparece vermelha é porque sangue inocente foi derramado…”

 

Foi em uma noite como essa que Miko saiu de casa vestindo roupas que pra ela eram consideradas completamente diferentes (e desconfortáveis). De calça jeans, uma blusa de manga longe e all-star ela deixou o templo xintô que morava no Japão com a missão de acalmar um espírito.

Pegou um ônibus que levava ao subúrbio da cidade até uma casinha de estilo antigo feita de tijolos e madeira, era noite e a única iluminação vinha dos postes de luz e de dentro da casa. Ela tocou a campainha e o portão se abriu automaticamente para que entrasse.

– Kinomoto-san? Está aí? Estou entrando.

Retirou os sapatos antes de entrar como era costume e entrou lentamente procurando sinais do dono da casa. Uma luz vinha de um corredor assim como o barulho de um choro baixo, o único som que vinha daquela casa. Miko avançou devagar até chegar à porta de madeira e a abriu. Lá dentro estava um senhor de cabelos grisalhos e óculos de meia-lua, sentado em uma caminha colocada no canto do quarto.

– Kinomoto-san, estou aqui como pediu. – Miko se aproximou e ajoelhou-se em frente ao velhinho olhando para sua face encharcada.

– Oh, Miko, minha querida, me desculpe, eu ouvi você chegar mas eu não consegui sair do quarto para te esperar, aquele barulho, aquela voz que vem lá de cima não pode ser minha querida Sakura, ela morreu, você viu ela morta, e agora fico ouvindo ela falar, Miko, faça ela descansar!

Ela assentiu com a cabeça e se pôs de pé sem dizer nada, saiu do quarto e andou pelo corredor até a escadaria que ficava próxima a entrada da casa. Lá de cima só a luz vermelha da lua era visível. Puxou seu rosário de pérolas da bolsa que carregava e orou por alguns segundos para o rosário fazendo-o brilhar. Subiu as escadas.

O Sr. Kinomoto esperava aflito no quarto enquanto ouvia o ranger das escadas a medida que Miko ia subindo. O silêncio de repente tomou a casa e o senhor se agarrou a estátua de Buda que ficava na mesinha ao lado. Rezou. Barulhos começaram a vir lá de cima, estrondos e portas batendo, um grito agudo foi emitido e vozes, uma era de Miko, a outra a da coisa. O barulho continuou e desceu as escadas saindo pela porta. Silêncio. Outro som de alguma coisa descendo as escadas e vindo em direção ao quarto, se aproximava com rapidez fazendo-o apertar o Buda com mais força a medida que chegava mais perto, até que a porta se abriu.

– Miko-sama, você quase me matou se susto! Diga-me, conseguiu se livrar da coisa?

A sacerdotisa olhava chateada para o velho enquanto guardava o colar na bolsinha, hesitou por um instante, mas por fim guardou enquanto um sorriso se esboçava em seus lábios.

– Sim, não se preocupe a coisa que se passava por sua linda Sakura já não está mais aqui, você agora pode dormir sossegado.

– Muito obrigado Miko-sama, muito obrigado.

A garota assentiu com a cabeça e fechou a porta. Suspirou olhando para a madeira e andou até a saída. Colocou seus sapatos novamente e abriu a porta da entrada da casa que dava para um jardim. No canto do jardim havia um túmulo.

– Não se preocupe, tudo vai ficar bem agora… – No túmulo podia se ler gravado na pedra “Kinomoto-san, pai e marido carinhoso…”

2 Comentários (+adicionar seu?)

  1. Laurent
    out 19, 2010 @ 00:36:40

    AMEI ESSA. ainda fico me rasgando pra continuação do mago e o sapo. mas achei o final dessa muito interessante. ja pode amar a miko?

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